Selfie de um tempo

Bacurau, Parasita, Era uma vez em ExpressoPsi

Bacurau – Um filme brasileiro de 2019, escrito e dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles. O filme derrama sangue na tela expressando um retrato da modernidade, na luta de um povo para preservar a sua memória. Hoje a liberdade das mulheres e homens está ameaçada por grupos orientados por uma heteronomia, e por um conjunto de verdades, as fake news. Em Bacurau as pessoas empoderam-se contra o domínio do perverso, contra os estereótipos e preconceito. Que modernização funesta de uma tragédia anunciada envolve a sociedade se atualmente? A dimensão subjetiva da realidade pode ser nossa reflexão aqui a partir desse tema.

O indivíduo está na encruzilhada de múltiplos componentes de subjetividade. Entre esses componentes, alguns são inconscientes. Outros são mais do domínio do corpo, território no qual nos sentimos bem. Ao fortalecer o sentido social da subjetividade, diluem-se os interesses puramente egóicos. (Guattari e Rolnik, 1986, p. 34). O autor nos propõe fortalecer a subjetividade que defenda por meio do coletivo uma vida mais justa para todas e todos, por meio do deslocamento do eixo do pensamento. 

Em paralelo, Parasita, chega esbarrando na temática brasileira, num outro contexto e outro território, mas no mesmo desejo extremado de justiça que aparece em formas de luta, violência e sangue. 

Parasita – Um filme de 2019 do sul-coreano Bong Joon-ho que demonstra a violência extrapolada, entre os próprios pares ou entre os pobres e ricos. 

Na película cada integrante da família pobre vai trabalhar na casa dos ricos e assume uma identidade diferente, para se adequar ao meio social. Em uma das cenas a família pobre, em apuros, vai para a própria residência tentar se organizar de um grande problema enfrentado, pretendendo um banho quente e um bom descanso para acalentar, mas a chuva torrencial na comunidade inunda tudo, forçando as pessoas a irem para os alojamentos. Sem privacidade, todos se misturam no sentimento em comum: prejuízo pesado. 

O filme é muito mais que isso. Chama a atenção Ki-woo, personagem do filme, que repete: “isso é tão metafórico! Qual a metáfora escondida nesse turbilhão?  

Ambos enredos podem ser convites para trabalhar para a mudança subjetiva da realidade. Sujeitos operando no sentido da singularização, ocupando espaços e contagiando pessoas.  

Esse nível de contágio pode se fazer por meio de um agenciamento de subjetividades desprovidas de arrogância, interesses e dominação, acrescidas da vontade de respeitar a humanidade. Se isso ocorrer, podemos afetar subjetividades endurecidas, atuando como um vetor de singularização.  

Esses dois filmes nos convidam a examinar as modelizações subjetivas, agregando ao nosso próprio enredo novas práticas, que podem começar por discussões sobre o não ao ódio nos círculos de amigos, familiares, mídias, bares. Talvez assim se faça um agenciamento de subjetividades acrescido da vontade de fazer algo ao lado dos outros para um mundo mais verde. 

Referências

BOCK, A.M.B.; GONÇALVES, M.G.M. A Dimensão subjetiva da realidade: uma leitura sócio-histórica. Prefácio Fernando González-Rey. São Paulo: Cortez, 2009.

GONZÁLEZ; REY, F.L. Sujeito e subjetividade: uma aproximação histórico-cultural. Tradução Raquel Souza Lobo Guzzo; revisão técnica do autor. – São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003.

GUATTARI, F. As três ecologias. Campinas: Papirus, 1990, 2001. 
______. Caosmose: um novo Paradigma Estético. Rio de Janeiro: 34, 1992.

GUATTARI, F.; ROLNIK, S. Micropolítica: Cartografias do desejo. Petrópolis: Vozes, 1986.

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