Ansiedade social


Atualmente as queixas nos consultórios sobre o temor de uma exposição de fraquezas em situações cotidianas e sentimento de inadequação, tem aumentado consideravelmente. Segundo Martinez apud Furmark 2002 o transtorno da ansiedade social (TAS) é considerado o terceiro problema de saúde mental mais habitual, depois da depressão e abuso de álcool. 

No DSM-V (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais): Os traços subjacentes que predispõem os indivíduos ao transtorno de ansiedade social incluem inibição comportamental e medo acentuado de avaliação negativa. As causas podem ser inúmeras. Entre elas, maus-tratos e adversidades na infância são fatores de risco para o transtorno ou ainda fatores hereditários em que parentes de primeiro grau apresentam uma chance 2 a 6 vezes maior de ter o transtorno, e a propensão a ele envolve a interação de fatores específicos (p. ex., situações de interação social que envolvem falar em público e/ou que implicam em comparação de desempenho).  

Nesse ponto, proponho um diálogo, que já é antigo: entre a ciência e o teatro, seguindo um pensamento que borrou no rigor científico acima, e adquire o caráter espontâneo abaixo. 

Imaginemos um teatro grego onde se apresenta uma peça em um palco simbólico (dentro da mente) e nesse palco se passa a história de personagens que sofrem desse comprometimento funcional. Nas cenas apresenta-se um medo, o de ser julgado por sua aparência desagradável e uma inconteste repulsa por si mesmo. No tablado mental defrontam-se os medos que afastam os/as personagens da animação de estar vivo e do entusiasmo de viver e a luta desejante de se livrar da ansiedade social. À medida que a peça se desenrola as cenas tomam uma amplitude maior e sofisticam trazendo à tona o terror do cenário e algumas saídas com a possibilidade de um novo movimento, de um devir (transformação e atitude mental). Assim a persistência em saborear seu próprio viver traumático, por meio das relações imagéticas, proporciona meios para que essa encenação mental apresente em seu contexto final um desfecho feliz. Na luz da ribalta as/os personagens experimentam a liberdade de ser o que se quer, suportando frustrações e auto-afrontas, voltando à vida real para esboçar as novas formas simbolizantes que fazem a força para o enfrentamento predominar. Contentes, as e os personagens, de cabeça erguida, caminham: “No meio do caminho tinha uma pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho. Tinha uma pedra, no meio do caminho tinha uma pedra.” Já identifico as pedras e sei como posso colocá-las no jardim.

Referências

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA). DSM-5: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (Locais do Kindle 10376-10386). Edição do Kindle.

ANDRADE, M. Poesias completas. 2 vols. Rio de janeiro: Nova fronteira, 2013.

MARTINEZ. A. S., OLIVEIRA, A. O., BADARÓ, A. C., GOMES, D. A. G., PERES, F. S., TAVARES, F. S., SOUZA, J. K. S., SOUZA, L. C., PEREIRA, S. M. & LOURENÇO, L. M. Periódicos da CAPES: Perspectiva das Dissertações e Teses sobre Transtorno de Ansiedade Social / Fobia Social. * Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil – Interação Psicol., Curitiba, v. 16, n. 2, p. 283-292, jul./dez. 2012.

Crédito da imagem: “Nós não temos a hora certa”, Leonilson

3 comentários em “Ansiedade social
”

  1. Estou passando por isso neste momento, odiando exposição da minha vida por estar trabalhando home office, ter câmera todos os dias fazendo video conferência, e eu fico pensando na questão de classe, enquanto meu chefe está em uma sala linda na casa dele, sou eu com vergonha do carro do ovo que passa aqui, na minha cozinha com meu banquinho de madeira… muito complicado!

    Tendo inúmeras reflexões sobre essa exposição, hoje mesmo foi dia de chorar!

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