A busca do bem-estar (felicidade)

Quando alguém chega ao consultório para fazer psicoterapia, expressa um sentimento que incomoda demais e não cabe na vida que se vive. Nas conversas no divã sempre ronda um inevitável assunto, sobre o que é a felicidade. Frases como essas são proferidas:  

— Feliz é quem sente, na maior parte do tempo, prazer.

— Felicidade é ausência de sofrimento de dor ou doença.

— O sentimento de felicidade é uma vibração boa e sensata na medida certa.  

Diz o médico neurologista Sanvito (1994, p.11): Apostar no prazer como indicador de felicidade é um raciocínio reducionista. Eu posso estar feliz e sentir prazer ao degustar um bom vinho. Para o autor, a felicidade, tal como é comumente concebida pelos homens, é mais ampla e exige contato epidérmico e um aguçar dos sentidos.  

Já Freud (2010, p. 29) diz: É difícil não acertar a resposta: eles buscam a felicidade, querem ser tornar e permanecer felizes. Essa busca tem dois lados, uma meta positiva e uma negativa; quer ausência de dor e desprazer e, por outro lado, a vivência de fortes prazeres.  

No trecho escrito acima, por esse pensador, resumimos que estar feliz é obter prazer e evitar desprazer. 

Todavia, os ideais da tão desejada felicidade por mulheres e homens estão inscritos num local hipotético da mente e são reproduzidos pela linguagem, na fala que o paciente professa nas sessões ao analista. Imagens mentais são capturadas pelo analista que traduz a felicidade do ponto de vista do paciente: que ser feliz é ter habilidade social, estar esteticamente afinado, ter um relacionamento sexual muito prazeroso, ter posses, dinheiro, ser bem-sucedido no trabalho, não ter conflitos na vida, saúde no corpo e muitos amigos. Infeliz aquele que não é sorridente e otimista, tem gorduras e é mais quieto, se distancia das redes sociais, enfrenta uma dor corporal e está deslocado. 

Que a monotonia da paisagem (felicidade?!) criada pela mente seja um incômodo e que as surpresas diárias sejam o estado de contentamento. Afinal, se a felicidade fosse gente, diria que ela é uma idealização utópica e riria das gentes que não a decifram. “Decifra-me ou te de devoro”. 

Referências

FREUD, S. (1930). O mal-estar na civilização, novas conferências introdutórias à psicanálise e outros textos. In S. Freud, Obras completas (P. C. L. de Souza, trad., p. 29). São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

SANVITO, L.W.. O Nó do Mundo – Miniensaios Quase Científicos Quase Filosóficos. Atheneu: São Paulo, 1994.

Crédito da imagem: poema de Augusto de Campos.

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