Colocar limites e aguentar o atual momento pode ser bom, para pensarmos sobre esse mal-estar. A fase está difícil e pode demorar para passar, enquanto isso, podemos ponderar os fatos
Estar presente em todos circuitos: lives, treinos físicos, cursos online e outros. Buscar ler conselhos de pessoas que dizem ser psicanalistas, psicólogos, terapeutas, gurus, coaches que prometem sucesso e fórmulas para enfrentar a vida em época de covid. Sufocante.
Convido-os a fazer uma analogia a partir de uma concepção psíquica, retornando um pouco a imagem do início da vida.
No nascimento, o bebê se depara com um universo aberto; no entanto, os pais ou responsáveis vão organizando a vida do bebê, obedecem horário de dormir, trocam a fralda, obedecem horários de mamar, providenciam os banhos de sol, espaço de brincar e etc. Diz Safra (2017, p.77): O interessante é que o ser humano tem de lidar, continuamente, ao longo de sua vida, com estes dois tipos de experiências espaciais: o espaço fechado, experimentado com vivências que vão do aconchego à claustrofobia, e o espaço aberto, vivido com sentimentos que variam entre a experiência de liberdade e agorafobia.
Na medida em que a criança vai se tornando adolescente e, depois, adulto, passa por essas circunstâncias e, com a chegada do covid, o mundo interior também muda e atualiza essa vivência em busca de novos espaços: novos horários de comer, outras formas para o banhos de sol, horários de se divertir, até onde se pode ir e vir.
Para entender e apropriar-se dessa condição atual, é necessário parar e analisar de maneira mais reflexiva os espaços fechados e espaços abertos, sem o desespero do estar em todos os lugares ao mesmo tempo, correndo o risco de se perder na vastidão do seu próprio universo. É possível, como adulto, auxiliar a si mesmo e se acomodar no seu continente e conter excessos de busca. Não conclusivas as propostas, finaliza-se com a provocação de que os leitores tomem contato com o difícil presente, trabalhando para colocar algum limite, como as figuras parentais fizeram no momento do nascimento, e, devagar, devagar, tatear seu próprio corpo e território dando sentido à estranheza do momento presente. A ideia é sentir-se vivo, sem estar conectado freneticamente a algo. Sim, a simples presença sem cobranças, leve e livre das lives, pode resultar no flutuar da mente, podendo organizar, devagar, os espaços internos sem deixar de neles incluir as flores.
Referência
SAFRA, Gilberto. A face estética do self. 9a ed. Editora Ideias e Letras, 2017.
BOWIE, David & MERCURY, Freddie. “Under Pressure”, 1981. Internet Archive (https://archive.org/details/UnderPressure_137).
mais da série
Confesso que esse isolamento e distanciamento físico porém “trancado Junto com os meus” tem aumentado minha “bipolaridade” e minha “paranóia”. Estou “elétrico” e “a flor da pele”.
Chico meu querido . Abraços
De fato, o que mais tenho feito neste momento, é olhar para meus excessos, e reavaliar minhas necessidades! “Sentir” o que realmente me é preciso agregar e o que já faz parte e não havia me dado conta!
Oi Cristiane (colega de profissão)
Os excessos as vezes servem como paliativos (são bons) mas não podem se tornar recorrentes . Obrigada pelo comentário . Abraços